Despertando a Shikai
Eu havia recém me inscrito em um dos treze bantais da Soul Society; depois de praticamente um ano de treinos e missões como shinigami, eu ainda não tinha me identificado com nenhum dos bantais, até o capitão do sexto dizer que havia se interessado pelo meu potencial, e que eu poderia crescer muito no seu esquadrão.
Por este motivo eu finalmente acordava num alojamento de um batalhão oficial, e não mais nos alojamentos da academia, repleto de aprendizes barulhentos e sem escrúpulos.
Mas ainda me faltava algo. Para crescer como um shinigami, era preciso ter poder, e a zampakutou é a raiz do poder de um shinigami. Raiz está que eu ainda não havia me atrevido a explorar; por isso que hoje, logo no meu segundo dia no sexto esquadrão, eu me dirigia a uma das áreas isoladas de treino;
O poder de uma zampakutou liberada é dividido em duas grandes escalas: Shikai e Bankai; sendo impossível atingir o segundo, sem antes atingir o primeiro; bem como, o segundo requeria um treino muito duro e específico, capaz de durar por anos; tanto que, apenas capitães o possuíam.
Sentei-me em meio às belas cerejeiras, na posição de lótus, com a zampakutou desembainhada pousada sobre os joelhos. Então fechei os olhos, para procurar dentro de mim mesmo o espírito que, segundo shinigamis mais experientes, deveria viver na espada. Se eu soubesse seu nome, teria seu poder;
Por várias horas permaneci naquela posição, em meditação; explorando cada recôncavo da minha mente em busca da chave para conversar com minha espada; eu podia sentir, mais do que nunca a reiatsu que corria dentro de mim.
Ela estava maior desde a última vez que eu havia parado para analisá-la; mais densa, e mais robusta. As várias missões e treinos ininterruptos dos últimos meses haviam dado seu resultado.
Mas mesmo assim eu não podia encontrar nem se quer sinal da alma que deveria viver na minha espada, e também dentro de mim;
Tentei penetrar no meu sub-consciente, mas era claro que isso não era possível; o próprio nome dizia que estava além do alcance da mera consciência.
Então voltei a vasculhar minha reiatsu, e todas as faculdades mentais que antes eu havia procurado; sem nunca encontrar real resultado. Com o tempo, aquele lugar tranquilo me levou a vaguear pelas minhas lembranças; de dias à muito passados;
Dos dias de quando eu ainda era um jovem garotinho, que via os pais com pouca frequência, e que vivia numa casa no 45º distrito do Rokungai; não era uma vida má;
A lembrança foi avançando, mais nítida do que estivera em noventa anos, chegando ao dia em que meus pais não voltaram pra casa, e para os dias seguinte de fome e solidão;
Então de repente deixei de enxergar como um mero espectador, eu vivia aquilo de novo; caminhando sujo, e esfarrapado pelas ruas do pequeno mercado, olhando desejoso para os tabuleiros dos padeiros que andavam na rua; roubei um pedaço de pão, depois de quase um dia inteiro sem comer;
Foram momentos angustiantes; eu corria desesperado pelas estreitas vielas, enquanto o filho do padeiro corria alucinado atrás de mim; eu estava cansado, e com o gosto do medo e da culpa nos lábios quando finalmente me desvencilhei.
Os dias continuaram a passar, em uma velocidade atemporal; eu estava junto dos outros órfãos na pocilga onde todos moramos por mais de oitenta anos. Por vezes, eu era capaz de ver um vulto estranho caminhando sempre às margens dos acontecimentos; dos roubos, de nossas lutas internas, dos que se adoentavam, e dos que se feriam durante o dia; um vulto que eu não me lembrava de existir;
Mas áquilo era tão vívido, que era difícil de duvidar; e eu não conseguia distinguir a forma daquela pessoa; eu apenas podia ver sua cor; a cor branca.
As memórias continuavam a avançar, até o fatídico dia em que um bando de contrabandistas nos achou nas sarjetas enquanto saqueavam o distrito por conta de dívidas de jogo;
Fui obrigado a reviver todo aquele terror e impotência de novo; ver o líder do nosso grupo derrubar três homens muito maiores do que ele antes de espetarem uma lança com cabeça de machado em sua barriga;
Enquanto tudo isso acontecia, o mesmo vulto ainda estava lá. A mesma forma indistinta; a mesma posição à margem; mas não a mesma cor; ali, no crepúsculo do primeiro dia do resto da minha vida, o vulto era negro e desta vez pude ver uma luz amarelo-esverdeada doentia, como os olhos de uma cobra, que se voltou diretamente para mim...
Então eu não estava mais na sarjeta, estava num cemitério, com minha zampakutu viva em minhas mãos; eu fatiava o Hollow a minha frente como um completo louco. Mas eu já não vivia a cena. Eu observava de fora. Me ver fazendo aquilo chegou a dar naúzeas; e meus olhos tinham o mesmo tom ofídio que os do vulto na lembrança anterior; vulto este que quando virei a cabeça para o lado, encarei diretamente nos olhos, e na sua face bicolor...
E então tudo ficou escuro.
Me vi de novo em frente à antiga casa dos meus pais no 45º distrito do Rokungai. Mas estava diferente; tudo era cinza, e mórbido; o céu estava totalmente encrespado de nuvens opacas de vários tons de cinza, e não havia qualquer vida ali.
- Então você finalmente apareceu, Askins...A voz vinha do fundo de uma as ruas; de um vulto, o mesmo que vinha atormentando minhas lembranças desde o início. Sua voz era estranhamente limpa, e doce; mas também cheia de malícia.
-Quem... Quem é você?- Você me conhece Askins, como pode não conhecer? Estive aqui a sua vida inteira...O vulto se aproximou; seguiram-se momentos de silêncio, até que sua fisionomia se tornou clara; era uma mulher; uma mulher com uma altura próxima da minha; não era feia, mas não era normal; a metade direita de sua face era completamente preta, enquanto a esquerda era perfeitamente branca; os olhos daquele tom ofídio e longos cabelos
- Spoiler:
- Que lugar é este? - sem saber porque, eu estava mais tranquilo, e me sentia estranhamente forte...
- Você sabe muito bem onde estamos, e se sabe, por que pergunta?- Esta era a casa onde eu morava quando meus pais ainda eram vivos... Mas está diferente. Por que tudo é cinza aqui? Por que as únicas cores são as que compõe a mim e a você?- Porque é aqui, e é assim, que seu coração está; este é o seu mundo Askins, é aqui que você realmente vive. E é aqui onde eu tenho vivido por anos; não gosto dessas cores também, elas me agoniam.- Meu... Meu coração? Minha alma, você diz? Isso é algum tipo de jogo?- Um jogo? Bem, talvez, é assim que quer que seja? Este é o seu mundo, como eu disse, suas emoções refletem diretamente nele; assim como em mim; você realmente não sae quem eu sou?As coisas começavam lentamente a clarear na minha mente; ou melhor, no que eu pensava ser a minha mente, tudo aquilo era confuso de mais; mas seria aquilo realmente a minha alma? Estaria isso querendo dizer que aquela estranha garota era... era...
- A resposta para a sua pergunta, está aqui, bem diante de seus olhos; diga Askins, diga o que você mais desejou durante a maior parte da sua vida. Conte para mim por que é este o lugar, e por que estas são as cores. - O que eu mais desejei... - vieram à minha duas lembranças simultâneas: a do dia em que não vi meus pais de volta em casa, e a do dia em que fui levado para o Seireitei, quando meus amigos órfãos foram mortos
- ... Justiça, e... Vingança pelos males cometidos pelos criminosos contra mim e contra os meus amigos; é por isso que este lugar é a casa de meus pais, pois esse é outro dos meus maiores e impossíveis desejos, vê-los voltando por aquelas portas, e é por isso que está tudo cinza, pois é assim que eu me sinto... Morto; fraco; impotente... Com raiva.-Não. Não é ódio que vive em se coração; nem mesmo medo. É apenas tristeza. Enorme e monstruosa que você me fez sentir por tantos anos. A justiça, a defesa dos que merecem, e a força para fazê-lo, e para vingar aqueles que eram justos; isto não está nos tons de cinza, você sabe onde está, não sabe, Askins?- No branco e no preto...- Você sabe quem eu sou não sabe? Eu sou o seu poder. Agora que me conhece, poderemos trazer luz de volta este mundo, Askins, Diga o meu nome.As nuvens cinzas se dissiparam, e uma aurora de um vermelho sanguíneo se ergue no horizonte.
Eu então abri os olhos.
O sol da manhã lançava um brilho róseo por entre as folhas das cerejeiras, a zampakutou estava quente sobre os meus joelhos.
Agarrei seu cabo com a mão; foi como se fosse a primeira vez que a segurava, um calor subiu pelo braço direito. Então me levantei...
- Okiro, EriasuO poder que foi liberado fez com que os galhos das cerejeiras balançassem com rajadas de vento; eu podia sentir meu reiatsu correr livre pelo meu corpo, e podia sentir a dama de duas cores viva dentro de mim.
Já não era sem tempoEm minha mão, uma lâmina com as cores igualmente divididas resplandecia, e eu sentia que nada nem ninguém poderiam me derrotar.
- Agora é hora de trazer a justiça para aqueles que ousam quebrá-la======
Off.: aqui está o tópico com a ficha da zampakutou:
https://bleachxtreme.forumeiros.com/t385-zampakutou-askins